Eu sempre me considerei uma menina diferente. Desde criança eu me lembro de ter hábitos “fora do padrão”. O lema na minha cabeça era: diversão. Eu (até hoje) sempre tive muita energia e sempre fui muito agitada. Minha mãe conta que eu comecei a andar com 9 meses.. e que se eu não estava no chão era certo de estar pendurada em algum canto. Pulava berço, subia na pia do banheiro.. uma menina moleque. Adorava esse titulo. Eu fui crescendo (mentira porque isso nunca aconteceu ne?!) e essa energia não diminuiu.
Durante a minha adolescência eu não fiz nada além de estudar e treinar muito. Eu treinava tudo. Jogava futebol na escolinha de futebol do São Caetano, fazia ballet, fazia circo e ainda treinava jiu jitsu. Isso para mim era a diversão. Não tive vontade de beber, fumar ou usar drogas. Ir para festa era algo quase que improvável, nem dormir em casa de amiga eu ia. Com 15 anos comecei a disputar alguns campeonatos de jiu jitsu. Eu era faixa branca juvenil.
Lá pelos meus 20 anos, eu já tinha pego a faixa azul de jiu jitsu, tinha morado fora do país, morado dentro de um trailer, aprendido a falar inglês e um pouco de italiano e tinha um ex namorado. Voltei para o Brasil já trabalhando no Circo Roda, voltei a treinar ginastica artística, continuei treinando jiu jitsu e por alguns anos vivi essa vida meio cigana de viagens de circo, treinos e mais treinos.
Em outubro de 2014, eu estava com 24 anos, minha vida mudou. Aceitei um convite de morar no Rio de Janeiro e ser, de uma vez por todas, uma atleta profissional de JIU JITSU. FOI A MELHOR DECISÃO QUE EU TOMEI NA MINHA VIDA. Larguei família, faculdade, academia, ginastica, circo e amigos para começar uma vida 100% focada em uma coisa só. Morava dentro da academia, treinava mais do que eu achei que um dia pudesse aguentar. Frequentava a praia poucas vezes porque meu corpo estava tão exausto que eu queria terminar o treino, comer e descansar para o próximo. Eu competi TODOS os eventos possíveis em 2015 de faixa roxa, ganhei um ou outro.. em 2016 lutei todos os eventos, e foi a mesma coisa, ganhei um ou outro.. meu coração se enchia de tristeza, eu estava vivendo aquilo e somente aquilo, abri mão de tanta coisa e mesmo assim a vitória nunca chegava… De agosto de 2016 a junho de 2017 o único campeonato que eu perdi foi o Europeu. Uma esperança nasceu dentro do meu peito. Eu estava lutando peso e absoluto com e sem kimono e ganhando tudo. Voltava pra casa com 4 medalhas de ouro.. comecei a acreditar mais e mais.. em abril/maio fui campeã brasileira peso e absoluto. Era isso, eu estava preparada.
Em junho lutei o mundial. Fiz 5 lutas e fui CAMPEÃ. Pronto. Era isso. CAMPEÃ MUNDIAL DE JIU JITSU. Meu primeiro mundial, que emoção. Voltei para minha casa, a academia no Rio, e só pensava em agradecer todo mundo por tudo. Os treinos voltaram na mesma intensidade e chegou a faixa marrom. Vivi quase a mesma coisa, lutei todos os eventos, perdi alguns, mas ganhei a maioria.. E de novo veio o titulo de campeã Brasileira..
Viajei para lutar o mundial com minha confiança alta, mas pedi na semi final. Mesmo com coração destruído resolvi colocar meu nome no absoluto. Uma segunda chance. Eu sabia que ganhar um absoluto era muito difícil com meu tamanho, mas algo no meu peito me dizia, acredita e vai. Ganhei 4 lutas e fui CAMPEÃ MUNDIAL ABSOLUTO. Era inacreditável.
Alguns meses depois… a faixa preta. Ser campeã mundial é incrível, mas pegar a faixa preta é algo que não da pra explicar. Foram anos de aprendizado, dor, superação, força de vontade. Um faixa preta carrega tudo isso dentro dele, carrega o instinto de “não desistir”, ele leva consigo uma armadura no peito algo que diz eu tenho força o suficiente para superar meus limites e conquistar isso aqui. Eu mereço.
Meu orgulho, minha profissão. Muito suor e muita batalha. Espero que de certa forma isso inspire você dentro do seu caminho. Corra atrás do seu sonho. Ninguém pode fazer isso por você.